Uma inusitada partida de futebol do Coritiba em 1976: o dia em que o Coritiba jogou contra um time da Penitenciária de Piraquara.
Por Matheus Neme
O ano é 1976 e o Coritiba viveria uma das temporadas mais marcantes de sua história. Primeiramente, foi o ano da despedida de Dirceu Krüger dos gramados. Na sequência, veio a conquista do Hexacampeonato Paranaense e, sobretudo, o triste falecimento de Antônio Couto Pereira. Entretanto, em meio a um período tão agitado, um amistoso incomum do Clube Coxa-Branca foi importante para o decorrer da temporada.
O calendário do futebol brasileiro era completamente diferente dos dias atuais. O Campeonato Brasileiro durou apenas 4 meses, de agosto a dezembro, enquanto o Campeonato Paranaense foi disputado por mais de um ano, iniciado em fevereiro de 1976 e finalizado apenas em março de 1977. O Coritiba vinha de uma sequência terrível de nove jogos sem vitória no terceiro turno do Paranaense, ocupando a sétima e penúltima posição.

Então, em meio a péssima campanha alviverde na reta final do estadual – situação revertida com a posterior conquista do título – a primeira derrota na competição nacional veio logo na estreia contra o São Paulo no Belfort Duarte. O placar de 2×0 para os paulistas foi uma surpresa para o Coxa. Segundo o treinador Dino Sani, contratado justamente para comandar a equipe na competição, o time paranaense teve as melhores oportunidades na partida, porém não conseguiu aproveitá-las. A solução para o técnico estava em fazer o elenco se entrosar o mais breve possível. Pensando nisso, o departamento de futebol iniciava os contatos para um amistoso contra o time do Joinville.
Uma inusitada partida de futebol do Coritiba em 1976
O que chama a atenção, porém, era o “match treino” que os jornais reportavam que seria realizado nas dependências da Penitenciária Estadual de Piraquara, entre o Coritiba e um time local. O amistoso acontecia logo no mesmo dia em que o clube voltava aos treinamentos após a derrota no Campeonato Brasileiro, em setembro de 1976.

O time do presídio
O adversário do Coritiba naquela partida era o Asas Futebol Clube, um “organismo interno” da Penitenciária de Piraquara fundado em 1959, como relatam os periódicos da época. O termo designado para identificar o clube piraquarense era uma forma de basicamente dizer que o elenco era formado por detentos.

O Asas já ocupava uma posição de certo destaque no futebol amador da região. Não são poucos os relatos de partidas disputadas entre os encarcerados contra times de jornalistas ou policiais. O clube era uma verdadeira potência, tendo jogadores com potencial de seguirem carreiras profissionais de acordo com os jornais. Organizado, o clube contava até com concorridas eleições para a diretoria.
As páginas dos jornais se enchiam de notícias sobre o escrete no Dia do Encarcerado, data comemorada em meados de julho e agosto. A primeira partida entre um clube profissional e os detentos foi em 1960, como parte das atrações para o dia especial. A partir disso, ocasionalmente eram marcados jogos treinos entre profissionais e encarcerados. O curioso jogo contra o Coritiba, por sua vez, foi no encerramento da Semana do Encarcerado, uma outra comemoração que acontecia em setembro.

A partida
O jogo treino não teve uma grande atenção da mídia, que focava suas notícias para as conturbadas negociações dos jogadores. Por isso mesmo, os atletas Tião Abatiá, Marinho e Nelson Lopes eram os personagens principais das tramas envolvendo o mercado da bola do Verdão em 1976. Consequentemente, posta de lado, aquele treino foi digno de tão somente de pequenas notas e citações que se misturavam em meio às negociações entre jogadores e times.
O periódico Diário da Tarde foi quem deu mais destaque à disputa, mesmo em uma matéria que envolvia as contratações alviverdes. Conforme o relato, o Coritiba não se esforçou muito durante a partida. No início, o Asas estava bem melhor e só ficou atrás do marcador com um gol de pênalti do Alviverde, convertido por Luisinho. Depois, porém, a diferença física entre profissionais e amadores reinou e uma goleada foi natural. O placar final foi 5×0 para o time Coxa-Branca, mas que mesmo assim não satisfez Dino Sani.

Restante da temporada
Porém, a goleada sobre o Asas Futebol Clube surtiu um efeito positivo no Coritiba. Isso tudo porque, após o amistoso, o Coxa se reencontrou no Campeonato Paranaense e Brasileiro.

Então, com o Cori vencendo os dois primeiros turnos do estadual, a má campanha no terceiro turno ficou para trás. Dino Sani comandou a equipe até dezembro, quando seu contrato chegou ao fim e deu lugar ao retorno de Diede Lameiro, técnico do Pentacampeonato. Dessa forma, o elenco do Alviverde rumou ao tão esperado Hexacampeonato. No Campeonato Brasileiro, o time não deixou se abalar pela má estreia e terminou a primeira fase na vice-liderança do Grupo B, apenas um ponto atrás do líder e com duas derrotas.
Fontes:
Diario da Tarde. Curitiba, PR: Impressora Paranaense, 1899. Diária. Abaixo do título: “Servico Telegraphico especial”.
Diario da Tarde: órgão dos Diários Associados. Curitiba: Diários Associados, [1955]
A atuação do Coritiba em eventos sociais
Em 18/08/1975, o então presidente Coxa-Branca, Evangelino da Costa Neves recebeu um ofício de Vera Vargas, então chefe de gabinete da Secretaria do Estado dos Negócios do Interior e Justiça.
Na oportunidade, o Coritiba foi convidado para participar da Semana do Encarcerado, promovido por aquela Secretaria estadual. Seriam realizadas duas partidas entre times do Verdão e equipes da Penitenciária Central do Estado.

Diretoria do Alviverde pretende propor o tombamento do Acervo do Coritiba
A diretoria do time Coxa-Branca já iniciou os trabalhos visando o tombamento do Acervo do Clube, de forma a dar melhores condições de guarda, tanto quanto ampliar o acesso público aos itens.
Em Curitiba, existe uma legislação local específica para o tombamento de itens de relevância histórica para o Município. Esse é um tema regulamentado pelo Decreto nº 360, de 29/03/2019. A referida legislação conceitua o que é o Tombamento: “ato administrativo que declara a singularidade e excepcionalidade de um bem considerado individualmente ou em conjunto, seja móvel ou imóvel, público ou privado, pertencente à pessoa física ou jurídica”.
Além disso, essa ação está relacionada “em razão do seu valor cultural, histórico, paisagístico, científico, artístico, turístico, arquitetônico ou ambiental, com instituição de um regime jurídico especial de propriedade como forma a garantir sua preservação e conservação”.
As pesquisas continuam e mais pessoas podem doar cópias digitais de seus acervos para o Coritiba
As pesquisas sobre a história do Coxa seguem com os trabalhos da Comissão de Preservação da Memória e da História do Coritiba Foot Ball Club. Primordialmente, quando o assunto são os fundadores do Verdão, a pesquisa é realizada conjuntamente com o grupo de historiadores Helênicos, estudiosos da história coritibana.
Da mesma forma, atividades vêm sendo realizadas pelo grupo de pesquisa e extensão a partir do núcleo de ciências jurídicas. Entretanto, este grupo recebe alunos de outras áreas da UFPR.
Por se tratar de uma pesquisa de grande amplitude e dificuldades no acesso de fontes primárias, atualizações dos bancos de dados são sempre bem-vindas e recomendadas, de forma aprimorar a metodologia de trabalhos.
Logo, é importante destacar que eventuais imprecisões podem ocorrer, sendo um problema da pesquisa. Por isso mesmo é tão importante que se disponibilizem novas fontes documentais.
Portanto, familiares dos fundadores do Coritiba Foot Ball Club que tenham interesse em doar cópias digitais de itens relacionados aos fundadores podem entrar em contato com a direção do Clube clicando aqui.
Verdão tem uma parceria técnica com a UFPR para melhor cuidar da história do Clube
Em uma parceria entre o Coritiba e a UFPR, o acervo histórico do Verdão também é cuidado por acadêmicos de graduação, bem como de pós-graduação. Nesse sentido, são pessoas com interesse em pesquisar mais a história do Clube e sua relação direta com a cidade de Curitiba.
O grupo de pesquisa e extensão foi formado a partir do núcleo do Setor de Ciências Jurídicas da Universidade Federal do Paraná. O grupo conta com alunas e alunos também de outras áreas da UFPR, como da História, Ciências Sociais e Educação Física. A equipe iniciou os trabalhos acadêmicos no acervo histórico do Coxa em 02/07/2025.
O professor Luís Fernando Lopes Pereira é o líder do grupo de pesquisa. Ele conta com a colaboração de outro docente da Universidade, o professor de Sociologia na Faculdade de Direito, Rodrigo Horochowski, que também acompanha as atividades de pesquisa científica do grupo. Entre os achados do grupo, borderôs e relatórios financeiros de todos os jogos do Coritiba no Torneio do Povo.
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As principais responsabilidades da diretoria do Coritiba Foot Ball Club, como Associação, estão vinculadas à fiscalização do contrato de compra e venda da SAF. Nesse sentido, são obrigações diretivas:
– Principalmente, acompanhar o cumprimento do pagamento das dívidas, em especial das parcelas da recuperação judicial da Associação;
– Da mesma forma, o cumprimento dos aportes financeiros anuais na gestão do Clube (futebol e atividades de apoio);
– Além disso, a gestão patrimonial. Inclusive quanto a manutenção e investimentos no CT Bayard Osna, no novo CT, tanto quanto no Estádio Major Antônio Couto Pereira;
– Bem como, os cuidados com a preservação histórica.
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